História

Fundação da Misericórdia de Armamar

As Misericórdias, na sua origem, foram irmandades e confrarias criadas com a intenção de levarem à prática as quatorze obras de misericórdia – as espirituais e as materiais.

Assim, existe um documento – carta de colação – cujo original se encontra na Torre de Tombo, que tudo leva a crer ser a origem da primeira Irmandade ou Confraria de Armamar, com data da segunda metade do século XVI, do reinado de Filipe I.

Anteriormente à fundação da Santa Casa da Misericórdia de Armamar, no local onde agora tem a sua sede e funciona o Lar de São José, outrora funcionou o Asilo – Hospital – Creche de José Rodrigues Cardoso, cuja valência hospitalar foi a única a ir avante, sendo o primeiro hospital a cobrir todo o concelho de Armamar.

José Rodrigues Cardoso deixou dez mil contos para a sua construção, conservação e manutenção – edifício central e edifício adjacente com capela privativa. A obra iniciou-se em 1926, sendo da autoria dos arquitectos Baltazar da Silva Castro, ex-director geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, e de Rogério de Azevedo, entrando ao serviço hospitalar no ano de 1931.

O primeiro Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Armamar data de 1954, tendo os Estatutos sido aprovados por despacho em 22 de dezembro de 1954 e publicados no Diário do Governo, n.º 2, III Série, de 04-01-1955.

De acordo com o disposto no artigo 3º daquele Compromisso, compete-lhe manter e administrar o Asilo – Hospital – Creche José Rodrigues Cardoso, que passou para a administração da Santa Casa em fevereiro de 1955.

Com personalidade jurídica civil, a Irmandade está reconhecida como instituição particular de solidariedade social e, de acordo com a natureza da sua erecção canónica, sujeita ao ordinário diocesano, à semelhança das restantes associações de fiéis.

O registo da Irmandade da Santa Casa no livro das “Irmandades das Misericórdias – Ministro dos Assuntos Sociais/Direção-Geral da Segurança Social -, foi feito a 17 de janeiro de 1983, a fls. 92 e 92 V, sob o nº 5/83, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 14º do Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social.

Nossa Senhora da Misericórdia é a padroeira da Santa Casa da Misericórdia de Armamar.

Vida de José Rodrigues Cardoso

José Rodrigues Cardoso nasceu em Vila Seca a 20 de novembro de 1864. Seus pais, João Manuel Rodrigues e Maria da Conceição Martins, eram pequenos proprietários rurais. A sua mãe era popularmente conhecida por Maria da Tomásia.

José emigrou para o Brasil com carta de chamada do irmão mais velho, António, tendo sido sócio da firma Morais, Carneiro & C.ª Ldª – que parece ainda existir -, uma das mais conceituadas casas comerciais de Manaus. E o sucesso financeiro proporcionou-lhe bons resultados e fortuna.

De Manaus, incumbiu o irmão António – entretanto regressado a Portugal – de mandar explorar água para abastecer Vila Seca, cuja população se debatia com falta de tão precioso líquido para beber e suas lides caseiras. Construí-se um depósito, um tanque e três fontanários.

Contribuiu também para a construção da estrada de acesso às obras do hospital que mandara projectar, levantar e edificar à sua custa, em Vila Seca, encarregando da construção, instalação e administração o seu grande amigo Dr. Bento Carqueja, director do já desaparecido jornal diário “O Comércio do Porto”.

Todavia, como era imprescindível que o hospital fosse provido de electricidade, acordou-se, numa parceria com a Câmara Municipal de Armamar, mandar proceder à montagem das respectivas linhas de energia, tornando este benefício extensivo à localidade.

Em 1907 casou-se com Olívia de Magalhães, filha do proprietário da Quinta do Vilarinho, fixando residência no Freixo, em Campanhã, na cidade do Porto.

Mais tarde, mandou construir um palacete, sito na Rua do Monte da Luz, na Foz do Douro, onde passou a morar e onde veio a falecer a 27 de janeiro de 1928.

A 20 de dezembro de 1987, a Santa Casa da Misericórdia e a Câmara Municipal de Armamar prestaram justa homenagem póstuma a José Rodrigues Cardoso, inaugurando o seu busto na parte frontal dos jardins que circundam o Lar da Terceira Idade, onde outrora nasceu o hospital, tudo graças à dádiva de tão ilustre e bondoso benemérito, passando o Lar, a partir dessa data, a chamar-se Lar de São José.

Baseado e adaptado dos contributos de José Bernardo Mendes de Carvalho Amaral